IVAN CRUZ (2006) - VÁRIAS BRINCADEIRAS II
A atividade principal ao desenvolvimento da criança é a brincadeira. O brincar faz com que a criança desenvolva as suas habilidades motoras (aprender é desenvolver o: andar, correr, saltar, rolar, escalar, lançar e receber objetos). Objetos como bolas, cordas, pedaços de paus, enfim, um brinquedo não é apenas manipulado pela criança, eles oportunizam que ela opere com significados conferindo-lhes sentido. Para uma criança um punhado de grama pode passar a ter o significado de comida no sentido de alimentar a boneca quando brinca de casinha, por exemplo. O sentido dado a cada objeto é próprio de cada criança e, ao fazer isto, se iniciará na formação do pensamento abstrato. Este pensamento é ausente nos animais, é uma habilidade mental que representa uma forma especificamente humana de atividade da consciência. Isto só foi possível aos humanos quando estes passaram a saciar suas necessidades de sobrevivência por meio do trabalho, uns 200.000 anos atrás
. Além das habilidades motoras e das habilidades mentais, os jogos e as brincadeiras, por já conterem regras implícitas ou explícitas, formam valores, desenvolvem conceitos morais, mediam a socialização e a comunicação. Da mesma forma que as brincadeiras e jogos influenciam na formação do comportamento social da criança, influenciam o adolescente. São nestes que, ao vivenciarem o cotidiano dos adultos, vão preparando-se para a vida adulta. Tais aprendizagens proporcionadas por cada tipo de brinquedo, de brincadeira ou de jogo pode acompanhá-la por toda sua vida. Portanto, brincar é coisa séria.
. Além das habilidades motoras e das habilidades mentais, os jogos e as brincadeiras, por já conterem regras implícitas ou explícitas, formam valores, desenvolvem conceitos morais, mediam a socialização e a comunicação. Da mesma forma que as brincadeiras e jogos influenciam na formação do comportamento social da criança, influenciam o adolescente. São nestes que, ao vivenciarem o cotidiano dos adultos, vão preparando-se para a vida adulta. Tais aprendizagens proporcionadas por cada tipo de brinquedo, de brincadeira ou de jogo pode acompanhá-la por toda sua vida. Portanto, brincar é coisa séria.
Uma criança começa a brincar por volta dos 3 anos de idade (período pré-escolar) por surgir nela o desejo de realizar algo que ela quer e não pode ter. Com o objetivo maior de resolver esta contradição (entre o querer e o não poder ter), neste momento entram em ação a imitação e a imaginação. Ou seja, a criança brinca de “casinha” repetindo os comportamentos sociais de sua vivência (daquilo que já conhece em seu convívio), antecipando o comportamento de idades futuras, ao imaginar que realiza coisas que ainda não pode, passa a imitar (ação) os pais; logo, ao frequentar a creche, passará representar o cotidiano escolar; também atuará como médico, após sua consulta. As regras de se comportar como pais, professor ou médico já estão implícitos no brincar, isto não significa que ela tenha consciência do que faz e por que faz, e sim que, ao vivenciar o cotidiano dos adultos, prepara a sua formação para vida adulta.
Desta forma, ela cria condições para desenvolver habilidades mentais juntamente com as habilidades motoras. Vale lembrar que todas as funções da consciência (imitação, imaginação, atenção, assim como memória) formam-se originalmente na ação. As habilidades mentais formarão a base para novas aprendizagens. A grande porta de entrada da aprendizagem é a atenção. O cérebro, por uma limitação natural, não consegue dar conta das variadas e numerosas coisas que vão acontecendo ao redor todo tempo. Mesmo que pareça que conseguimos prestar atenção em duas ou mais coisas ao mesmo tempo, só conseguimos prestar atenção em uma coisa de cada vez. Na verdade o que fazemos é alternarmos nossa atenção, rapidamente, entre uma e outra coisa. Por exemplo, entre ouvir uma música e ler um livro, ou bem entendemos o que lemos ou o que ouvimos.
Decidir onde prestar atenção exige um controle emocional para continuarmos atentos naquilo que é necessário. É importante persistirmos para pretender aquele momento de retorno positivo que, a sua vez, sinalizará àquele que estiver em aprendizado, se aquilo que foi feito deu certo e, por seguinte, que deverá continuar a fazer daquela maneira. Neste momento em que o indivíduo é afetado positivamente, a região do cérebro que cuida dos centros de prazer produz dopamina (neurotransmissor responsável pelas sensações de prazer) como forma de recompensa. Este estímulo de bem-estar mobiliza a atenção e reforça nosso comportamento em relação àquilo que é necessário, ativa o sistema de incentivo e recompensa (que não é apenas a resposta sobre aquilo que já deu certo). Ou seja, com base em experiências anteriores daquilo que dá certo, o cérebro é capaz de criar expectativas sobre o que pode vir a dar certo. A antecipação do prazer do que pode dar certo, ou seja, a motivação é que faz com que nos movamos, faz com que saiamos do lugar literalmente e passemos a ação.
Se a porta de entrada da aprendizagem é a atenção, a motivação é a base da aprendizagem. Ela que permite que nos empenhemos na prática, nos dediquemos a aprender algo. A motivação depende de uma dificuldade adequada, algo fácil ou difícil demais, é ruim. Daí a necessidade do mais experiente contribuir com o menos experiente para que o difícil se torne fácil. Daí também a necessidade daquele em dificuldade pedir a ajuda ao mais experiente.
Na incapacidade de ter consciência do que faz ou de, ainda, não entender os motivos pelos quais uma brincadeira é inventada, limita que um indivíduo mais novo peça ajuda, tanto que, às vezes, ele nem se dá conta que necessita dela. Cabe ao adulto estar atento a tal situação. Este também é o momento propício ao adulto encontrar-se com um problema, dos grandes. Se o adulto está ausente, por exemplo, devido à longa jornada de trabalho, terá condições limitadas em intervir na dificuldade do menos experiente. Contudo, a presença do adulto tampouco é garantia deste problema ser inexistente. Entre outras coisas, este problema pode ser mascarado quando um adulto se incumbe de mediar vários aprendizes ao mesmo tempo limitando o reconhecimento das dificuldades enfrentadas por cada aprendiz. Exemplo disto é a lotação das salas de aulas, condições permitidas por políticas públicas na educação, na atualidade.
Vimos que é através da imitação, que a criança faz um elo, uma ligação com a realidade. A situação imaginária oportunizada por qualquer forma de brinquedo já contém regras de comportamento, por si só é um jogo simbólico. Também vimos que os brinquedos que possibilitam a imaginação estimulam o desenvolvimento, por permitirem que a criança atribua vários significados ao mesmo objeto, ampliando sua capacidade de pensar, planejar e criar hipóteses. Conforme o desenvolvimento do pensamento abstrato, a criança não precisa mais do pensamento simbólico, e sim dos jogos de regras. Com estes e com o domínio das regras, que corresponde ao período escolar (a partir dos 7 anos aproximadamente), ela aprende a controlar seu próprio comportamento e a se apropriar do mundo adulto. Ao esforçar-se para agir como adulto, amplia o desenvolvimento de suas ações futuras e cria conceitos sobre o mundo. Assim como, passa a ter consciência o que faz e porque faz o que faz. É o mesmo que afirmar que a brincadeira de criança é imaginação em ação e a imaginação nos adolescentes e escolares é a brincadeira sem ação. Contribuir para tal desenvolvimento possibilita que raciocínio abstrato esteja em pleno desenvolvimento já no final do período da adolescência. Brincar (jogar) é aprender; aprender é desenvolver as potencialidades humanas que está em nós. Como se vê, a brincadeira e o jogo tem grande influência na formação do comportamento da criança e do adolescente.
Referências
Castanha, L. A. (2013). Como a neurociência explica o processo de aprendizagem? Acessado em 28 set, 2015: http://www.administradores.com.br/noticias/academico/como-a-neurociencia-explica-o-processo-de-aprendizagem/80257/.
Cruz, I. (2006). Várias Brincadeiras II. Tela de 1,30 por 1,70 cm. Técnica A.S.T. Acessado em 28 set, 2015: http://www.brincadeirasdecrianca.com.br/
VIGOTSKI, L. S. (jun de 2008). A brincadeira e o seu papel no desenvolvimento psíquico da criança. Revista Virtual de Gestão de Iniciativas Sociais ISSN: 1808-6535, pp. 23-36.
Nenhum comentário:
Postar um comentário