JOGO DE XADREZ – REPRESENTAÇÃO DA FORMA DE PRODUÇÃO - escrito pela professora Denise Pirolo




Todo jogo surge da representação da realidade. Além disto, em geral ele não nasce acabado, vai sofrendo transformações ao longo do tempo em resposta à economia (forma de produção da vida). Com o xadrez não é diferente, sua forma elementar (primitiva) vai se complexificando, daí a necessidade do estudo prévio para entender as fontes e razões do seu surgimento (origem). Há historiadores do xadrez como Yuri Averbach arriscam que ele evoluiu de um jogo de corrida (até 500 dC), por exemplo.

Contudo, o mais aceito como ancestral do xadrez é que surgiu na índia entre os séculos VI e VII (no anos de 500 a 600), chamava Chaturanga (jogos dos quatro elementos), possuía 8 peças: Ministro (hoje Dama), um cavalo, um elefante (hoje Bispo), um navio (mais tarde uma carruagem e hoje torre) e 4 soldados (hoje os peões). E era praticado por 2 ou 4 pessoas movimentando as peças por lances de dados. Na Índia, China e Pérsia, um jogo de tabuleiro chamado Shah, que simulava o combate entre dois exércitos que disputavam a captura do rei (Shah). Xeque Mate (shah mat) é a expressão persa que significa o rei morreu. Ou seja, as guerras e na busca por novas rotas de comércio, as hordas1 árabes (mouros), ao invadirem a Pérsia, aprenderam o jogo e levaram-no consigo na invasão da Espanha. Assim, o xadrez, então, foi introduzido nos países ocidentais e África. Dali e com o passar do tempo, o jogo espalhou-se pela Europa, e o cenário do jogo com características do contexto feudal adquiriria a representatividade da realidade da Idade Média. Os jogadores passam a atuar como generais dos exércitos branco e preto dando vida às peças que disputam o território (tabuleiro), movimentar as peças se diferencia para as formas na perpendicular (coluna e fila)2 e diagonal, tanto para proteger seu rei, como para atacar o rei inimigo. Ainda, as peças do jogo de tabuleiro ganharam outros nomes e as regras foram alteradas. Provavelmente esta adequação sofrida é decorrente da mudança da situação econômica vivida, ou seja, a uns 900 anos atrás o jogo representava a forma escravistas, depois tornou-se servil. O que tem em comum nisto é que, em ambos os períodos, a

forma predominante da produção da vida era mediada pela propriedade privada. Isto significa que o ser humano estava privado de produzir sua vida. O impedimento estava em fazer uso agropecuário, uma vez que, a propriedade havia sido violentamente saqueada de si. O escravo era pertencente ao seu dono, estava alienado a esta condição. Com o servil (na época feudal) também estava alienado, contudo de uma forma diferente atendia ao dominante. Como agravante deste problema, havia o fato de que, cada um em seu contexto (servo e escravo) eram forçados a saciar as necessidades daqueles que o dominava, ainda,
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pagando-lhe tributos e impostos. Outro agravante é que na reprodução da vida, todos entendiam que uma vez nascido em determinada situação histórica, nada poderia ser feito para mudar aquela condição. Não se tinha entendimento que podia-se interferir na história, ou seja, não se compreendia que à medida que o homem transforma a História, é transformado por ela e, por isto, desta forma se acumula conhecimento adquirido na história e cria-se a própria cultura. Assim, era natural o pensamento era que o escravo morreria escravo e o servo nascia para ser servo e, ainda, que esta hierarquia era tida como natural. Ou seja, o dominante também havia nascido para controlar as vidas dos dominados, usando de violenta coação. O contexto é de guerra.
Como desdobramento disto, o que se observava eram fortalezas erguidas para evitar ataques que destituíssem o representante de todos (o rei, o imperador). Sua palavra era lei, por isto, era defendido pelos súditos que lhe devotavam vida e lealdade. O território era sinônimo de poder, pois é dele que se conseguia a sobrevivência, por exploração da natureza e do escravo e do servil. O poder aumentava a medida em que a propriedade privada aumentava (territórios, escravos etc.). Além do mais, maior seria a arrecadação de impostos, uma vez que quase todos eram contribuintes dos tributos (assim como atualmente).



Desta forma, o rei e sua corte e a guerra pela conquista da propriedade privada são representados no tabuleiro:
  • A Dama ou rainha tinha grande influencia sobre o rei por sua condição genitora do herdeiro do rei. Principalmente se fosse homem daria continuidade à dinastia garantindo perpetuando a propriedade privada dos meios de produção da vida (no caso terras) conquistada em outras batalhas.
  • O bispo destinatário episcopal (do Greco Epi, sobre e Kopos, observar) ou vigia a torre exercia influencia sobre as decisões do monarca também. O vigilante bispo e sua mitre3 representa a igreja que exercia muito poder sobre todos, principalmente controle sobre as massas (peões).
  • A torre quando considerada o castelo é a fortaleza, o refúgio e lar do monarca e sua família, mas também pode ser considerada a parte do castelo onde se aprisionava e torturavam os inimigos.
  • O cavalo representa o único soldado profissional, o cavaleiro sobre o cavalo com sua armadura (de ferro) e uma lança empunhada. O exército de proteção também era composto por este trabalhador civil independente ou alarbadeiro4 (em inglês significa free-lance, lança livre) que colocava sua lança a serviço de combate a qualquer um que lhe pagasse. Eles procuravam aventuras e participavam das cruzadas, diferentes dos demais que, em maioria, passavam a vida sem afastar-se 30 kilômetros de seu lugar de nascimento. O cavalo foi imbatível nas investidas da infantaria até que os ingleses criaram o grande arco.
  • os peões são os servos ou pobres trabalhadores nos campos de agricultura que, como em qualquer sociedade de classe, há mais deles que quaisquer outros sujeitos. São estes que, ao serem transformados em soldados, protegiam os interesses daquele que o dominava, o rei. Assumida a função de um soldado da infantaria nunca recuam. Frequentemente, sacrificavam-se para defender os mais poderosos. Fazia pressão no ataque provocando perdas devastadoras dos oponentes, inclusive dos poderosos, por capturar ou aprisionar o rei. Também podia ascender no campo de batalha, durante uma disputa, adquirindo outra função.
Os alunos do C.E. Tomaz Edison de Andrade Vieira de Maringá, durante as aulas de educação física, no ano letivo de 2015, aprenderam o significado do jogo. Cada um criou seu tabuleiro e peças com material alternativo para que fosse possível praticar os jogos pré enxadrísticos. Participaram alunos do 6ºA, 7ºA, 8ºB, 9ºC. Confira os excelentes resultados:






1 Tribo nômade.

2 Coluna ou fila são termos militares usados para explicar os movimentos do xadrez.

3 Chapéu usado pelos dignatários episcopais.

4 Soldado da infantaria que portava lanças ou alabardas (Arma antiga, constituída de uma longa haste de madeira rematada em ferro largo e pontiagudo, atravessado por outro em forma de meia-lua)

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